PROGRAMA
Tu es Petrus | Maurice Duruflé (1902-1986)
O Salutaris | Pierre Villete (1926-1998)
Tantum ergo | Déodat Sévérac (1872-1921)
Ubi Caritas | Maurice Duruflé (1902-1986)
Requiem, Op. 48 | Gabriel Fauré (1845-1924), versão Pierre Calmelet
- Introit
- Kyrie
- Offertoire
- Sanctus
- Pie Jesu
- Agnus Dei
- Libera me
- In Paradisum
Alexandra Bernardo | soprano
Especializou-se em Ópera com Elena Dumitrescu-Nentwig. Trabalhou com Joana Levy, Nico Castel e Pamela Armstrong. O seu percurso operático tem sido feito, em grande parte, através das personagens de Mozart como Donna Anna (Don Giovanni), Fiordiligi (Così fan tutte), Vitellia (La Clemenza di Tito) e Pamina (Die Zauberflöte), mas inclui também interpretações de Dido (Dido & Aeneas, Purcell), Euridice (Orfeo ed Euridice, Gluck), Cunegonde (Candide, Bernstein), Violetta (La Traviata, Verdi) Hanna Glawari (Die lustige Witwe, Lehár) e Micaëla (Carmen, Bizet). Em concerto, destacam-se os Requiems de Brahms, Mozart, Fauré, Duruflé e Rutter, Lauda per la Natività del Signore de Respighi, Exsultate, jubilate de Mozart, Magnificat em Talha Dourada de E. Carrapatoso, Gloria de Vivaldi, Magnificat de Bach, a cantata O holder Tag, erwünschte Zeit de Bach, a Fantasia Coral e 9ª Sinfonia de Beethoven e a 4ª Sinfonia de Mahler. Conquistou vários prémios nacionais e internacionais (1º Prémio e Prémio do Público no 8º Concurso de Canto Lírico da Fundação Rotária Portuguesa, o 2º Prémio e Prémio do Público do 15º Concurso de Interpretação do Estoril, ou o 3º Prémio no 1st Barcelona Music Festival Competition, entre outros). Tem colaborado com orquestras como Divino Sospiro, Orquestra Sinfónica Juvenil, Ensemble MPMP, Orquestra do Norte, Orquestra de Guimarães, Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orquestra Sinfónica Portuguesa e Orquestra Gulbenkian. É membro fundador da Nova Ópera de Lisboa.
Armando Possante | barítono
Iniciou os seus estudos musicais no Instituto Gregoriano, tendo concluído os cursos de Direcção Coral, Canto Gregoriano e Canto na Escola Superior de Música de Lisboa, escola onde actualmente ensina Canto. Foi-lhe atribuído o Título de Especialista em Canto pelo IPL. Estudou Canto em Viena com a Professora Hilde Zadek e frequentou masterclasses com os maiores especialistas mundiais. É director musical e solista do Grupo Vocal Olisipo e do Coro Gregoriano de Lisboa, tendo-se apresentado em concertos e orientado workshops em todo o mundo. Gravou mais de duas dezenas de discos, com elevado reconhecimento crítico, e apresentou-se em concerto em toda a Europa, Ásia, América do Norte e Norte de África. Conquistou primeiros prémios, a solo e com o Grupo Vocal Olisipo, em vários concursos internacionais em Portugal, Itália, Bulgária e Finlândia.m Apresenta-se regularmente como solista em recital, oratória e ópera, tendo colaborado com as principais orquestras e maestros do país.
Sérgio Silva | orgão
Mestre em Música, Ramo de Interpretação em Órgão, pela Universidade de Évora, sob a orientação de João Vaz. Para a sua formação contribuiu o contacto com diversos organistas de renome internacional. Apresenta uma agenda artística intensa, executando tanto a solo como integrado em agrupamentos de prestígio nacionais, tendo actuado em diversos países europeus e em Macau. Participou em diversas gravações discográficas como solista e integrado em agrupamentos, destacando-se a gravação do primeiro volume de Flores de Música de Manuel Rodrigues Coelho, o qual tem sido bem recebido pela crítica internacional. Paralelamente, tem-se dedicado ao estudo e transcrição de música antiga portuguesa, tendo colaborado em edições nacionais (Obras de Fr. Fernando de Almeida – IPL) e internacionais (Flores de Música de Manuel Rodrigues Coelho – ECHO). É professor de Órgão na Escola Artística Instituto Gregoriano de Lisboa e organista titular da Basílica da Estrela e da Igreja de São Nicolau.
Direção
Maria de Fátima Nunes
Natural de Lisboa (1987), realizou os seus estudos musicais no Instituto Gregoriano de Lisboa, é licenciada em Fisiologia Clínica (Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa), mestre em Direcção Coral – ensino e performance (Escola Superior de Música de Lisboa) e pós-graduada em Estudos Avançados em Polifonia (Escola Superior de Artes e Espectáculo do Porto). Trabalha regularmente como maestrina e mezzo-soprano nalguns projectos nacionais e internacionais e ainda como professora de coro na Escola de Música de Nossa Senhora do Cabo. Na área do canto teve oportunidade de trabalhar com Armando Possante e Manuela de Sá. Como solista, realiza alguns concertos em repertório de várias épocas e estilos. Trabalhou com Michel Corboz, Esa Pekka Salonen e Patrice Chéreau, John Nelson, Leonardo García Alarcón, entre muitos outros. Fez parte do Tenso Europe Chamber Choir (Kaspars Putnins) e participou em vários festivais de renome na Europa integrando vários agrupamentos, como o Festival de Ambronay (FR), Festival d’Aix en Provence, Oude Muziek (NL). Recentemente, foi responsável pela preparação do Coro da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 e integra a direcção artística do Coro Regina Coeli de Lisboa a partir de Setembro 2023. É maestrina assistente do Coro Participativo do Summer Choral Festival of Lisbon (desde 2017) e do Coro Participativo da Fundação Calouste Gulbenkian (2017, 2018 e 2024). É assistente da direcção artística do Coro Gulbenkian e maestrina assistente do Ensemble São Tomás de Aquino. Como cantora de ensemble, trabalha regularmente com o Choeur du Chambre de Namur (BE), Vocal Ensemble (Vasco Negreiros) Officium Ensemble (Pedro Teixeira) e Coro Gulbenkian (PT).
ORQUESTRA REGINA COELI DE LISBOA
A Orquestra Regina Coeli é um agrupamento criado pela Concertato para servir de apoio às produções artísticas do Coro Regina Coeli de Lisboa. Apresentará formações variadas de acordo com o repertório proposto que poderão ir desde pequenos ensembles (Quarteto para o Porgy & Bess) até pequena orquestra (Requiem de Fauré) ou orquestra completa em futuras apresentações já agendadas. É objectivo da ORC proporcionar oportunidades profissionais a jovens músicos portugueses que dão os seus primeiros passos na vida artística.
Músicos
Luísa Semedo | violino
Joana Moser Vasconcelos | viola d'arco
Margarida Vieira | violoncelo I
Ana Carolina Rodrigues | violoncelo II
João Alves | contrabaixo
Samuel Marques | trompa I
João Junceiro | trompa II
Salomé Matos | harpa
* Contribua com um donativo a favor das obras sociais da paróquia de Santa Maria de Belém
NOTA AO PROGRAMA
O Requiem de Gabriel Fauré: uma jornada litúrgica rumo à luz
A tradição coral francesa, com a sua rica textura e profundidade emocional, encontra a sua expressão mais etérea na obra de Fauré, cujo Requiem oferece uma visão serena da morte e da vida após ela. Dentro deste mesmo tecido espiritual, Pierre Villette contribui com O Salutaris, uma peça que, com a sua linguagem harmonicamente sofisticada, dialoga com a simplicidade e o fervor religioso que permeiam a composição de Fauré. Maurice Duruflé, um mestre na fusão de canto gregoriano com sensibilidade moderna, adiciona ao repertório duas peças vitais: Ubi Caritas, que celebra o amor e a comunhão humana, com linhas vocais que parecem abraçar o ouvinte, e Tu es Petrus, uma proclamação de fé firmemente ancorada na rocha de São Pedro, oferecendo um contraponto robusto à suave acolhida de Fauré ao repouso eterno. Déodat de Séverac, com o seu Tantum Ergo, presta uma homenagem ao ritual e ao sagrado, compondo com um lirismo que ressoa com o chamamento à esperança e à luz eterna, encontrados no In Paradisum de Fauré. Cada uma destas peças entrelaça-se na grande tapeçaria da música sacra francesa, enriquecendo o diálogo entre o divino e o humano, entre o céu e a terra, que Fauré tão habilmente iniciou.
No universo da música sacra, o Requiem de Gabriel Fauré emerge como uma obra singular, marcando um ponto de inflexão na renovação da música litúrgica francesa ao alvorecer do século XX. Composta entre 1887 e 1888, a peça nasce com apenas cinco movimentos essenciais — Introit et Kyrie, Sanctus, Pie Jesu, Agnus Dei e In Paradisum — aos quais Fauré, em revisões posteriores, adicionou o Offertoire, com a seção Hostias, e o Libera me, ampliando a sua visão e aprofundando o seu diálogo com a eternidade.
Distanciando-se das tendências dominantes da sua época, que favoreciam o lirismo exuberante do bel canto italiano e a grandiosidade da tradição sinfónica alemã, Fauré ousa trilhar por um caminho distinto. O seu Requiem ancora na simplicidade e na introspeção, empregando uma vocalidade que ecoa o canto gregoriano e uma orquestração que privilegia a intimidade, com harmonias que se aproximam do impressionismo. Este Requiem não é um clamor perante a morte, mas um sussurro que acalenta a alma, um convite a contemplar a transição para a vida eterna com serenidade e esperança.
Desde os primeiros compassos do Introit, Fauré estabelece um diálogo entre a sombra e a luz. A escuridão inicial cede lugar à promessa da lux perpetua, a luz perpétua, simbolizando a morte como um prelúdio para a ascensão espiritual. O Offertoire, com o seu cânone intricado, que invoca a figura de Cristo numa tríade simbólica que se desenrola sobre um fundo de tensões harmónicas, apenas para se resolver na luminosidade de um Amen triunfante.
O Sanctus, com o diálogo entre as vozes femininas e masculinas, pinta um quadro de celestialidade, enquanto o Pie Jesu, entregue à pureza da voz do Soprano, revela-se como um coração que bate no centro da obra, uma súplica por descanso e paz. O Agnus Dei, por sua vez, contrasta temas expressivos com interjeições corais dramáticas, culminando num momento de sublime beleza onde a palavra lux se torna no farol que guia a alma para além do véu terreno.
Nos movimentos finais, Fauré navega pelas águas do contraste: o Libera me, com a sua cadência solene e solo implorante do barítono, enfrenta brevemente as sombras antes de reencontrar a luz na recapitulação coral. É no In Paradisum que a obra se dissolve numa melodia etérea que parece transportar o ouvinte para um reino de paz e esplendor.
Gabriel Fauré, ao compor este Requiem, não apenas redefine o género, mas oferece uma nova perspetiva sobre a morte — não como um fim, mas como um início, uma "entrega feliz" nas palavras do próprio compositor. A sua obra, então descrita por alguns como uma "canção de embalar fúnebre", é na verdade um hino à esperança, uma afirmação da beleza e da continuidade da vida espiritual. Este Requiem não é apenas música, é uma meditação, um bálsamo para a alma que busca conforto na promessa de uma luz que nunca se extingue.